Conheça a DeepSeek, empresa chinesa de IA que derrete ações em NY

Imagem de Freepik
As ações globais de chips e o índice de ações americano que reúne as ações de tecnologia, o Nasdaq, operam em forte queda nesta segunda-feira (27) depois que a empresa chinesa de inteligência artificial (IA) DeepSeek disse que desenvolveu um modelo deracio IA, o R1, que se iguala aos rivais americanos, como o ChatGPT, apesar de usar chips inferiores e exigir, consequentemente, menor quantidade de energia para funcionar.
Treinar o R1 custou cerca de US$ 5,6 milhões, estima o Jefferies. Isso é menos de 10% do custo que a Meta registrou para treinar o Llama. Por fim, a DeepSeek usou um conjunto de mais de 2.000 chips Nvidia (NVDA; Nasdaq) para treiná-lo, em comparação com dezenas de milhares de chips que são normalmente usados para modelos de tamanho semelhante.
Como resultado, as ações da fabricante de chips desaba e o app que oferece um robô baseado no modelo R1 da startup chinesa, lançado neste mês, subiu para o topo do ranking da App Store da Apple no fim de semana. Além da Nvidia, que despenca mais de 16%, os papéis da TSMC (TSM; Nasdaq) perdem mais de 13% do seu valor. Já a Microsoft desvaloriza quase 4%, assim como a Alphabet. Como reflexo, o índice de tecnologia Nasdaq é negociado com baixa de mais 3%.
A declaração levantou temores de que o domínio global da tecnologia dos Estados Unidos estaria em jogo. Houve até quem mencionasse que a Deepseek é o momento Sputnik da IA. O termo vem do impacto causado nos Estados Unidos quando a União Soviética lançou o Sputnik 1, o primeiro satélite artificial, em 4 de outubro de 1957, explica a gestora WHG.
Os anúncios levaram investidores do mundo todo a reconsiderar as avaliações de grandes empresas de IA, em um momento no qual esses valores já vinham sendo vistos como inflacionados, o que provoca um fluxo forte de vendas dessas ações.
Na Europa, as ações da fabricante holandesa de equipamentos semicondutores ASML (ASML) caíram 7% na Bolsa de Amsterdã. Uma matéria da Bloomberg estima que a startup chinesa vai provocar uma queda de US$ 1 trilhão nas ações de tecnologia dos EUA e da Europa.
OK. Mas quem é a DeepSeek?
A DeepSeek é uma empresa privada chinesa de tecnologia fundada há pouco mais de um ano por Liang WenFeng, um gestor de fundos multimercados chinês com cerca de US$ 8 bilhões em ativos.
Em dezembro a empresa lançou um modelo de IA que, segundo afirma, foi desenvolvido em dois meses por menos de US$ 6 milhões. Seu modelo têm código aberto. Ou seja: pode ser melhorado pela comunidade de desenvolvedores. O diferencial do aplicativo em relação a outros robôs de IA, como o ChatGPT, é sua capacidade de articular o raciocínio antes de apresentar uma resposta, aponta Frank Downing, diretor de pesquisa de Internet de Nova Geração da gestora americana Ark.
"Assim como a série "o" da OpenAI, o R-1 utiliza o raciocínio em cadeia para lidar com desafios complexos de lógica e matemática, gerando respostas mais precisas e coerentes do que os modelos convencionais de linguagem ampla. Os índices de referência indicam que não apenas rivaliza com o modelo fechado o1 da OpenAI, mas também supera outros concorrentes do mercado".
Na semana passada, apresentou outro modelo que concorre com o ChatGPT da OpenAI, mesmo tendo de lidar com rígidas restrições dos EUA sobre chips, incluindo alguns modelos da Nvidia, apontam analistas da corretora americana Wedbush. "Não está claro se a DeepSeek encontrou uma maneira de contornar essas restrições e quais chips usou, e haverá muito ceticismo sobre essa questão, considerando que a informação vem da China".
Uma reportagem do Wall Street Journal faz outras ressalvas. O valor divulgado pela DeepSeek não inclui os custos de pesquisa e desenvolvimento, nem várias outras despesas. Além disso, a empresa treinou seu modelo com chips da Nvidia estocados, em vez de infraestrutura chinesa, o que não é uma estratégia viável a longo prazo, já que os EUA podem continuar a restringir exportações de chips para o gigante asiático. O fundador da DeepSeek informou ao governo de Pequim que as restrições dos EUA às exportações de chips já são um problema.
A bolha vai estourar?
As declarações da DeepSeek levantaram novamente temores frequentes no mercado de que uma bolha de ações de IA possa estar prestes a estourar. Contudo, analistas recomendam ter muita calma nessa hora. Embora os alarmes estejam soando para as Sete Magníficas hoje, as coisas podem mudar rapidamente, apontam analistas do banco ING. "Ainda há incerteza sobre como exatamente o DeepSeek funciona, se é seguro e quão robusto ele é".
O site americano de notícias financeiras Barron´s acredita que há razões para acreditar que os investimentos das empresas americanas podem valer a pena a longo prazo. "Se o nível atual de IA pode ser alcançado de forma econômica, a IA mais avançada está ao alcance". Melhorar a IA é, no final das contas, uma boa notícia para empresas que vendem essa tecnologia, conclui.
"Isso não significa que Satya Nadella, da Microsoft, e Mark Zuckerberg, da Meta, não enfrentarão perguntas difíceis quando suas respectivas empresas divulgarem os lucros esta semana, após prometerem investir dezenas de bilhões a mais em IA. Mas as dores de curto prazo podem apontar para ganhos de longo prazo".
Os analistas da Wedbush estão otimistas. Eles apontam que algumas vezes nos últimos anos ocorreram grandes quedas nas ações de tecnologia que se mostraram oportunidades de ouro para compra das ações da Nvidia, Microsoft, Alphabet, Palantir, Salesforce, Amazon e o ecossistema de IA. "Hoje é, na nossa opinião, mais uma dessas ocasiões".
"Embora o modelo da DeepSeek seja impressionante e tenha impacto, a realidade é que as Sete Ações Magníficas (Tesla, Microsoft, Amazon, Apple, Alphabet, Meta Nvidia) e a tecnologia dos EUA estão focadas no objetivo final de inteligência artificial geral, com toda a infraestrutura e ecossistema que a China, especialmente a DeepSeek, não consegue alcançar, na nossa visão".
Além disso, apontam, o foco da IA agora está nos casos de uso empresarial e na infraestrutura mais ampla, que impulsionarão os US$ 2 trilhões de investimentos no segmento anunciados pelas grandes empresas de tecnologia nos próximos três anos. "O próximo passo será a IA física em robótica e sistemas autônomos. A DeepSeek não vai interromper isso. Na verdade, pode até acelerar os investimentos para os grandes provedores de nuvem".
Por fim, os analistas acreditam que nenhuma grande empresa de capital aberto americana usará a startup chinesa para lançar sua infraestrutura de IA. "No final do dia, há apenas uma empresa de chips no mundo lançando soluções para sistemas autônomos, robótica e uso mais amplos de IA, e essa empresa é a Nvidia. Lançar um modelo competitivo para consumidores é uma coisa... lançar uma infraestrutura de IA ampla (ramo da IA ??que iguala ou supera o intelecto humano em uma ampla gama de tarefas) é um jogo completamente diferente, e nada relacionado à DeepSeek nos faz acreditar em algo diferente".
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, aponta que parece demasiado cedo para adotar conclusões mais concretas acerca do potencial impacto e transformações que a DeepSeek pode causar no mercado. No entanto, é inegável que catalisa um movimento de correção no curto prazo no questionamento da necessidade dos atuais investimentos no setor, o que em sua visão é algo bastante válido. "A notícia reforça a importância de ter uma carteira de investimentos balanceada em classes de ativos e setores".
Fonte: valorinveste.globo.com