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Neuroarquitetura é aplicada aos Condomínios para garantir qualidade de vida

Neuroarquitetura é aplicada aos Condomínios para garantir qualidade de vida

Imagem de mindandi no Freepik

 

Você sabe o que é neuroarquitetura e como isso impacta na vida das pessoas, inclusive nos Condomínios?

Para entender todas as nuances da interligação entre a arquitetura e a neurociência, a reportagem do Sindicond entrevistou o renomado arquiteto Lorí Crízel, que arranjou um tempo em sua agenda lotada para dar detalhes sobre essa inovação.

 A neurociência trata do estudo científico em relação ao sistema nervoso, ou seja, os mecanismos de funcionamento do cérebro humano.

“Então, quando nós fazemos uma interpolação sobre neurociência e arquitetura nós percebemos, por exemplo, que o ambiente que nos cerca é um grande conformador relacional, emocional e ele dita vários desses elementos. Por exemplo, o ambiente hospitalar modifica muito a sua questão de percepção, a sua questão de relação com esse espaço, a sua condicionante psíquica dentro desse espaço”, resumiu.

Portanto, o ambiente é um configurador dessas relações psíquicas, emocionais e comportamentais. “E aí a neuroarquitetura se dedica a entender melhor isso e, através dessa compreensão, aplicar determinadas práticas, técnicas e dinâmicas que façam com que os ambientes tenham uma condicionante relacional com os usuários muito mais qualificada, muito mais positiva”, explicou o arquiteto.

 

Intenção é deixar ambientes dos Condomínios mais harmoniosos

No caso dos Condomínios residenciais ou comerciais, a intenção é tornar os ambientes mais convidativos, até mesmo com a organização e a movimentação dos espaços.  O desafio é utilizar elementos para promover um convite às mudanças de comportamento e garantir maior interação social.

Crízel exemplificou o caso de um condomínio mutifamiliar, com famílias com diferentes composições. O espaço pode ajudar a organizar e melhorar essas relações. Nesse caso, o profissional pode, por exemplo, usar os conceitos da biofilia (técnicas compositivas com foco na natureza) e elementos que garantam o pertencimento e favoreçam as relações sociais.

 

Configuração dos ambientes pode aumentar sensação de segurança

Existem modelos de disposição de composição espacial que sinalizam até mesmo se um ambiente é mais ou menos seguro. A disposição dos espaços pode até mesmo inibir a ação de criminosos ou tranquilizar os pais em deixar os filhos brincarem em determinados locais no Condomínio, por exemplo.

“Então a gente tem condições de trabalhar dentro das áreas condominiais ferramentas e propostas diferentes para que se possa utilizar destas dinâmicas inclusive no aspecto de segurança. O modo como o espaço é configurado pode me trazer uma maior ou menor sensação de segurança, seja para o usuário que está dentro em relação ao que ocorre fora assim como quem está fora em relação ao edifício em si”, explicou o arquiteto.

 

Ventilação e iluminação são elementos essenciais deste tipo de arquitetura

Crízel contou que não é necessário fazer uma reforma e destruir paredes para aplicar esses conceitos da neurociência nos Condomínios, em especial a ventilação, iluminação e pé direito alto em edifícios.

Nos projetos deste tipo pode-se  aliar a biomimética (ciência que observa fenômenos e processos da natureza, utilizando seus mecanismos para inspirar soluções que beneficiem o cotidiano das pessoas) e trabalhar a estrutura espacial através de elementos que se relacionem com biofilia (contato próximo com a natureza, como vegetação, materiais e links com o meio externo).

Também pode aplicar o chamado design salutogênico, que nasceu nos ambientes de saúde, mas que hoje é amplamente utilizado em ambientes residenciais e corporativos. “O design salutogênico é quando nós vamos tornar o ambiente como um dos elementos compositivos do processo de cura. Neste caso, do residencial e do corporativo, preceitos também de design salutogênico são empregados numa questão de favorecer a um não adoecimento. Então os ambientes se tornam muito mais voltados a condicionantes de bem-estar, de apropriação”, explicou.

A integração desses três fatores - design biofílico, biomimética e design salutogênico – cria a sensação de acolhimento e aconchego através de possibilidades como aumento das aberturas, criação de um espaço híbrido com uma conexão muito forte com o meio exterior, dente outros.

 

Projetos também podem conter estímulos sensoriais

Elementos sensoriais também podem ser aplicados aos projetos condominiais, seja nas áreas comuns ou nas unidades familiares. O profissional pode aplicar a sinestesia, ou seja, a mescla de sensorialidades que leva a percepção específica dos sentidos humanos, como tato, olfato, visão, etc. Tudo vai depender do propósito do espaço.

“A nossa questão de percepção é moldada através dos nossos sentidos e a neurociência hoje nos mostra que nós temos muitos outros sentidos além daqueles cinco tradicionais que normalmente falamos. Então esses inputs sensoriais são extremamente bem-vindos porque já auxiliam também no modo como nós vamos traduzir aquela espacialidade, no modo como vamos vivenciar e até mesmo nos comportar dentro daquele ambiente”, explicou o arquiteto.

Portanto, nos projetos, podem ser aplicados elementos táteis e visuais, odorização, iluminação e sonorização. “Então nós podemos ter diversos elementos que vão fazer isso. Nós podemos trabalhar com elementos de biofilia direta, biofilia indireta. Quando a gente propõe, por exemplo, um grande adesivamento de uma paisagem e aquilo já indica uma determinada dinâmica que ocorre naquela espacialidade. Então os inputs sensoriais são muito bem-vindos. Até pra construir, por exemplo, dentro do condomínio”, explicou o arquiteto.

“Um dos importantes aspectos que a nos preocupamos é construir um bom ‘wayfinding’, ou seja, uma boa experiência de percurso dentro desse condomínio, de mostrar qual seria o itinerário ideal ou mais prazeroso em termos experienciais para que os usuários e os moradores o fizessem. Nós vamos fazendo essa jornada da experiência através da construção de todos esses elementos, que acabam sendo utilizados em um projeto condominial”, disse.

 

Escolha das cores e texturas é fundamental nesse tipo de projeto

Segundo Crízel, as cores são um input sensorial muito forte. A recomendação dele é utilizar os elementos de cores até mesmo como sinalizadores. É muito comum alguns condomínios fazerem demarcações dos espaços público (para todos) e privado (proibido a visitantes). Nas áreas de uso compartilhado é muito comum alguns condomínios setorizá-las por cores.

“Às vezes, até mesmo os próprios blocos dos prédios são separados por cores diferentes, criando uma leitura visual, mas, nas áreas comuns, por exemplo, alguns condomínios fazem a troca de material que indica em que ambiente você está. Então, às vezes, a troca de piso e dos revestimentos acaba sendo um elemento que já indica onde você está em relação ao percurso que pretende fazer. Isso é muito comum hoje em dia porque também ajuda no processo de ‘wayfinding’, principalmente para crianças. As crianças se guiam muito pelos seus movimentos perceptivos”, esclareceu.

Para ter noção do grau de minúcias, até mesmo as cores já são estudadas durante a pintura dos prédios para melhorar a percepção das pessoas sobre os edifícios.  Isso, inclusive, contribui para valorizar os imóveis.

Também é possível aplicar o neuropaisagismo. Trata-se da troca das tipologias paisagísticas e das formas, volumes, cores e texturas das plantas. Nesse caso, as áreas comuns estão todas setorizadas através de uma dada tipologia de paisagismo. Os equipamentos, os tipos e a quantidade de bancos, os acessórios e os elementos vegetativos mudam de acordo com o ambiente em que se está no Condomínio.

 

Móveis também seguem essa tendência mais natural

Até mesmo o mobiliário precisa acompanhar essa aplicação biofílica. O mesmo ocorre com a diagramação do layout, os materiais e as cores que serão usadas na iluminação.

Isso vale tanto para os móveis, como mesa e cadeira, como para o mobiliário externo, como os bancos e os acessórios, que podem ter usos múltiplos.

Esses conceitos permitem até mesmo uma estrutura diferenciada da bancada da portaria. Até o mobiliário é projetado a partir do neurodesign, para ser indicativo de ser mais convidativo, despojado ou mais sério.

Há casos de Condomínios com salas de cinema para os moradores.  Nesses casos o projeto vai contemplar poltronas grandes, confortáveis, uma boa acústica e iluminação adequada para assistir a um filme. Mas isso não impede inovação, como uma instalação no teto e a configuração da modulação das paredes.  Através dos elementos que compõem o espaço é transmitida uma mensagem, uma informação e até mesmo um convite.

 

Empreendimentos já são projetados com este novo conceito da arquitetura

A neuroarquitetura também está sendo utilizada na configuração dos novos Condomínios. Todos esses conceitos já são observados na configuração externa, fachada, muro e áreas comuns.

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